Faz bem dois meses já que estou analfabeto de digitação. Alguma vez ficaste catando milho no teclado. Pois é, fiquei assim. Então vamos à estória completa.
Lá por 1997 Mário, um amigo, apresentou-me o Mavis Beacon. É um programinha que dá aula de digitação. Do tipo mesmo das antigas aulas de datilografia com posição das mãos e tudo mais. O legal do Mavis Beacon é que os exercícios são apresentados na forma de jogos. Por exemplo, um dos exercício de treino de ritmo é um robô que anda numa esteira e passa por debaixo de caixas. Cada caixa tem uma letra dentro e o objetivo do jogo é fazer o robô cabecear a caixa na hora que passa por debaixo dela. É claro que para o robô cabecear e valer ponto é precisa apertar a tecla com a letra da caixa. A ideia é bastante simples, mas fica divertido.
Nessa época Mário ficou realmente viciado no Mavis. Éramos estudantes do segundo grau e ele estava digitando a velocidades alucinantes. Quando fazíamos trabalhos escolares em grupo ele era o digitador oficial e conseguia digitar mais rápido do que falávamos, adivinhando as palavras seguintes do texto.
Vasculhando na net, descobri que o Mavis ainda existe. Agora em versão modernosa. Cheguei a instalar no Windows uns aninhos atrás, só por curiosidade mesmo. Ótimo programa! Pena que é pago. Se fosse legal baixar de um torrent crackeado eu recomendaria a todos, mas como não é, né? Há substitudos livres, mas com muito menos diversão. Lá na frente vou contar que usei o Klavaro e o KTouch, ambos no Ubuntu, mas há versões pra Windows também, se usares este sistema.
Esta foi minha primeira experiência com a digitação por tato (alguém conhece uma tradução padrão de touch typing?). Usam este nome porque os dedos se posicionam corretamente sobre o teclado com a ajuda de duas pequenas protuberâncias marcando a posição dos indicadores (se nunca percebeu, olhe o seu teclado). É o tato e a memória muscular que fazem o processo funcionar. Depois de algum treino, não é preciso pensar nas letras componentes das palavras nem olhar para o teclado para escrever. A gente pensa no que quer dizer e as mãos fazem serviço. Trabalham por elas mesmas, sem nossa intervenção. É mais ou menos como falar. Por acaso você pensa em como deve mexer a boca pra falar isso ou aquilo?
Lembrei-me de uma coisa p(h)oderosíssima, que vai deixar o ex-tema-principal para o próximo post. Só saberás de meu analfabetismo depois.
De Quincas Borba, capítulo 80:
"Mas a voz repetiu: — E por que não? — Sim, por que não havia de casar, continuou ele raciocinando. Mataria a paixão que o ia comendo aos poucos, sem esperança nem consolação. Demais, era a porta de um mistério. Casar, sim; casar logo e bem.
Estava ao portão, quando esta idéia começou a abotoar; foi dali para dentro, subindo os degraus de pedra, abrindo a porta, sem consciência de nada. Ao fechar a porta, é que um pulo do Quincas Borba, que o viera acompanhando, fê-lo dar por si. Onde ficara o major? Quis descer para vê-lo, mas advertiu a tempo que acabava de o acompanhar até à rua. As pernas tinham feito tudo; elas é que o levaram por si mesmas, direitas, lúcidas, sem tropeço, para que ficasse à cabeça tão-somente a tarefa de pensar. Boas pernas! pernas amigas! muletas naturais do espírito!
Santas pernas! Elas o levaram ainda ao canapé, estenderam-se com ele, devagarinho, enquanto o espírito trabalhava a idéia do casamento. Era um modo de fugir a Sofia; podia ser ainda mais."
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
quarta-feira, 28 de abril de 2010
TUDO
"as coisas" é um livro do Arnaldo Antunes. Mandei um artigo praqui traduzindo um teorema curioso do livro de teoria de conjutos do Paul Halmos. O artiguinho é este: Nada contém tudo. Na sequência, vai um recorte do livro do Arnaldo:
Mais dele aqui.
Mais dele aqui.
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