sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Mãos autônomas

Passou-se um ano e eu não expliquei coisa nenhuma. Agora já está tudo bem diferentes. Eu havia feito o seguinte experimento: adotar uma nova configuração de teclas no teclado. Em outras palavras, misturar as letras do teclado. A letra que aparece quando eu digito não é a letra escritinha sobre cada botão. Como eu sei qual é? Bem.... a gente não aprende onde está cada letra até não precisar mais olhar pra o teclado? Então pronto. Aprendi outra configuração de teclado. O nome da configuração de teclas é leiaute Brasileiro Nativo.

Depois de um mês de catar milho e outro mês de adaptação, passei a digitar normalmente. Agora digito mais rápido no Nativo do que digitava antes no QWERTY. Isso porque o Nativo foi projetado pra gente ter conforto ao digitar e minimizar os movimentos das mãos. Assim as letras mais usadas em português ficam na linha do meio. ASDFG HJKLM vira AIEAOU MDSRN. Reparou que todas as vogais ficam na esquerda? É pra gente digitar usando uma mão e a outra alternadamente. As palavras em português normalmente são consoante - vogal - consoante - vogal - .... Separando vogais numa mão e consoantes na outra fica mais rápido e mais confortável digitar. MDSRN são as consoantes mais usadas em português. Então a gente quase sempre digita sem tirar os dedos dos botões da linha central do teclado. Só precisamos mover um pouco mais pras letras mais raras. Muito bem pensado, não?!?!

Já ouviste falar de onde veio essa organização das letras do teclado QWERTY? Recortarei dum artigo da Wikipedia:

"Nesse layout, os pares de letras utilizados com maior frequência na língua inglesa foram separados em metades opostas do teclado, numa tentativa de evitar o travamento do mecanismo das rudimentares máquinas de escrever do século XIX. Ao alternar o uso das teclas, o arranjo evitava o travamento de teclas nas antigas máquinas de escrever: enquanto uma mão acerta uma tecla, a outra localiza a tecla seguinte."

Resumindo, o leiaute de teclado mais comum do mundo foi pensado para evitar travamentos de uma máquina (mecânica) do século XIX e para digitação em inglês.

Havia um site: www.tecladobrasileiro.com.br . Infelizmente ele está fora do ar no momento. Lá tinha a explicação do camarada que fez o leiaute brasileiro nativo dizendo o motivo de ele ser do jeito que é e o driver pra instalar no windows que permitia a alteração a qualquer momento do QWERTY para o Nativo e vice-versa. No Ubuntu, o sistema daqui, o nativo já é uma opção padrão. Eu deixo sempre os dois leiautes instalados no meu usuário, pra se alguém quiser usar o PC na minha conta e preferir o QWERTY (como todo o resto do mundo).

O legal é que, mesmo sem continuar treinado, agora estou digitando a 50 palavras por minuto naturalmente sem fazer esforço. As mãos já estão no automático faz tempo. Eu penso uma palavra e elas apertam nos botões das letras sem eu saber conscientemente onde é. Também é curioso que depois de alguns minutos de readaptação no QWERTY minhas mãos lembram onde são as teclas no leiaute "velho" e começam a trabalhar sozinhas de novo.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Mãos Autônomas ou Mavis Beacon

Faz bem dois meses já que estou analfabeto de digitação. Alguma vez ficaste catando milho no teclado. Pois é, fiquei assim. Então vamos à estória completa.

Lá por 1997 Mário, um amigo, apresentou-me o Mavis Beacon. É um programinha que dá aula de digitação. Do tipo mesmo das antigas aulas de datilografia com posição das mãos e tudo mais. O legal do Mavis Beacon é que os exercícios são apresentados na forma de jogos. Por exemplo, um dos exercício de treino de ritmo é um robô que anda numa esteira e passa por debaixo de caixas. Cada caixa tem uma letra dentro e o objetivo do jogo é fazer o robô cabecear a caixa na hora que passa por debaixo dela. É claro que para o robô cabecear e valer ponto é precisa apertar a tecla com a letra da caixa. A ideia é bastante simples, mas fica divertido.

Nessa época Mário ficou realmente viciado no Mavis. Éramos estudantes do segundo grau e ele estava digitando a velocidades alucinantes. Quando fazíamos trabalhos escolares em grupo ele era o digitador oficial e conseguia digitar mais rápido do que falávamos, adivinhando as palavras seguintes do texto.

Vasculhando na net, descobri que o Mavis ainda existe. Agora em versão modernosa. Cheguei a instalar no Windows uns aninhos atrás, só por curiosidade mesmo. Ótimo programa! Pena que é pago. Se fosse legal baixar de um torrent crackeado eu recomendaria a todos, mas como não é, né? Há substitudos livres, mas com muito menos diversão. Lá na frente vou contar que usei o Klavaro e o KTouch, ambos no Ubuntu, mas há versões pra Windows também, se usares este sistema.

Esta foi minha primeira experiência com a digitação por tato (alguém conhece uma tradução padrão de touch typing?). Usam este nome porque os dedos se posicionam corretamente sobre o teclado com a ajuda de duas pequenas protuberâncias marcando a posição dos indicadores (se nunca percebeu, olhe o seu teclado). É o tato e a memória muscular que fazem o processo funcionar. Depois de algum treino, não é preciso pensar nas letras componentes das palavras nem olhar para o teclado para escrever. A gente pensa no que quer dizer e as mãos fazem serviço. Trabalham por elas mesmas, sem nossa intervenção. É mais ou menos como falar. Por acaso você pensa em como deve mexer a boca pra falar isso ou aquilo?

Lembrei-me de uma coisa p(h)oderosíssima, que vai deixar o ex-tema-principal para o próximo post. Só saberás de meu analfabetismo depois.

De Quincas Borba, capítulo 80:

"Mas a voz repetiu: — E por que não? — Sim, por que não havia de casar, continuou ele raciocinando. Mataria a paixão que o ia comendo aos poucos, sem esperança nem consolação. Demais, era a porta de um mistério. Casar, sim; casar logo e bem.

Estava ao portão, quando esta idéia começou a abotoar; foi dali para dentro, subindo os degraus de pedra, abrindo a porta, sem consciência de nada. Ao fechar a porta, é que um pulo do Quincas Borba, que o viera acompanhando, fê-lo dar por si. Onde ficara o major? Quis descer para vê-lo, mas advertiu a tempo que acabava de o acompanhar até à rua. As pernas tinham feito tudo; elas é que o levaram por si mesmas, direitas, lúcidas, sem tropeço, para que ficasse à cabeça tão-somente a tarefa de pensar. Boas pernas! pernas amigas! muletas naturais do espírito!

Santas pernas! Elas o levaram ainda ao canapé, estenderam-se com ele, devagarinho, enquanto o espírito trabalhava a idéia do casamento. Era um modo de fugir a Sofia; podia ser ainda mais."

quarta-feira, 28 de abril de 2010

TUDO

"as coisas" é um livro do Arnaldo Antunes. Mandei um artigo praqui traduzindo um teorema curioso do livro de teoria de conjutos do Paul Halmos. O artiguinho é este: Nada contém tudo. Na sequência, vai um recorte do livro do Arnaldo:



Mais dele aqui.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Óculos 3D

Esses dia, fomos eu, Cássia e os nossos sobrinhos cuiabanos assistir o tal do cinema 3D. Uma maravilha!!! O filme foi "Era do Gelo 3". Os óculos que nos deram, acheio-os muito curiosos. Não eram daquele vermelho e azul, pareciam óculos escuros comuns, com umas lentes acinzentadas. Colocamos os óculos antes de começar o filme e nada de estranho. Continuavam óculos escuros. Feios, por sinal.

Mas quando começou o filme... aí foi outra estória! Tudo em 3D saindo da tela com a paisagem lá dentro, como se a tela fosse uma janela. Tirando o óculos durante a exibição, só o que se vê é a imagem normal do filme, só que com as bordas das figuras embaçadas. No finalzinho do filme, aproveitei pra fazer um último experimento. Inverti o óculos, colocando a lente do olho direito no olho esquerdo e vice versa. O resultado curioso é uma inversão da posição das coisas.

Saí confuso e extremamente interessado em descobrir como aquilo funcionava. Fora o óculos que Cassinha "esqueceu" e acabou levando pra casa, não tinha mais nada pra testar. Só que o tal óculos parecia comum. O outro, aquele vermelho e azul que as vezes acompanha revistas, pelo menos a gente sabe que uma lente filtra o vermelho e a outra filtra o azul, assim dá pra apresentar uma imagem diferente em cada olho. Como é exatamente a diferença entre a imagem que vemos em um olho e a imagem que vemos no outro que permite ao nosso cérebro calcular a distância entre as coisas e formar imagens 3D, dá pra fazer um desenho bicolor imitando esse efeito. Mas esse óculos cinza... o que será??? Sem sabe como testar, resolvi apelar pra internet.

Solução surpreendentemente simples disponível em diversos endereços da net. As lentes filtram luz em duas polarizações diferentes!!! Da mesma forma que as figuras das revistas 3D são duplicadas com pequenas diferenças, as figuras do cinema 3D são dobradas. Nas revistas a diferenciação de um olho pra outro aparece na cor (vermelho ou azul). No cinema são exibidas duas imagens com polarizações diferentes. Creio que são dois projetores, cada um com um filtro polarizador em um eixo (tou chutando isso). Como nosso olho não diferencia polarização, vemos tudo misturado sem os óculos. Isso resulta numa sobreposição embaçada. Com os óculos, uma das lentes filtra a imagem em um eixo e a outra filtra no eixo perpendicular, impedindo que misturem-se uma imagem com a outra.

Quando colocamos os óculos 3D sem o filme, a luz ambiente (com todas as polarizações) é filtrada e vemos apenas metade da luz chegar aos nossos olhos. Por isso não vemos distorção na imagem, só um pouco menos de luz. Mas olhando para o filme, vemos uma imagem diferente em cada olho. As duas imagens são geradas com pequenas diferenças. Exatamente as mesmas diferenças que perceberíamos se estivéssemos vendo a cena com os dois olhos, que são levemente afastados, claro. O resultado é um mamute que pula fora da tela!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Nada contém tudo.

Uma traduçãozinha dum pedaço magnífico de "Naive Set Theory", do Paul Halmos. Usei E para pertence E' para não pertence. Meio estranho, mas quebra o galho. Se tiver com preguiça de ler, dizer "isto é uma demontração de que nenhum conjunto contém todas as coisas pensáveis" pode ser um estímulo para a leitura densa. A estorinha começa com o axioma da especificação, que é uma dos pressupostos básicos da teoria dos conjuntos, aquela mesma que aprendemos os rudimentos na escola.

Aperte os cintos. Lá vai:
____________________________________________________

Axioma da especificação: Para todo conjunto A e toda condição S(x) corresponde um conjunto B cujos elementos são exatamente aqueles elementos x de A para os quais S(x) é verdadeiro.
[...]

Para obter uma incrível e instrutiva aplicação do axioma da especificação, considere, no lugar de S(x), a sentença:
"x E x"

Segue que, qualquer que seja o conjunto A, se B = { x E A | x E' x}, então, para todo y,

(*) y E B se e somente se (y E A e y E' y )

É possível que B E A ? Continuaremos para provar que a resposta é não. De fato, se B E A, então ou B E B, ou ainda B E' B. Se B E B, então, por (*), a suposição de que B E A leva a B E' B - uma contradição. Se B E' B, então, por (*) de novo, chegamos a B E B - uma contradição novamente. Isto completa a prova de que B Є A é impossível, então necessariamente B E' A. A parte mais interessante desta conclusão é que existe algo (chamado B) não pertencente a A. Mas o conjunto A neste argumento é um conjunto arbitrário. Provamos, em outras palavras, isso:

Nada contém tudo.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Inauguração da Botija Eletrônica

As postagens tratando de investimentos financeiros vão ficar rotuladas com este marcado "Botija Eletrônica". Pra quem não sabe, antigamente era muito comum o pessoal enterrar potes com dinheiro, ouro ou coisas de valor pra esconder de roubos. Na falta de banco, né? Muitos morriam sem revelar a localização do tesouro e, mesmo hoje em dia, se fala em "fulano tirou uma botija num sei onde" pra dizer que a bicha foi desenterrada por fulano.

Tenho a impressão que essas postagens terão uma abordagem bem quantitativa. Veremos.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

"A Placa de Vídeo" ou "Upgrade Econômico"

Como tenho dito, sou um barateiro. Gosto de pechinchas e prefiro achar algo bom dentre as coisas baratas às chiquezas de marca. Nessa linha, sempre preferi PCs com configurações levinhas no bolso e possibilidade de posterior expansão. O atual foi adquirido em Ciudad del Este, em janeiro de 2007 e já está um tanto defasado. A configuração é a seguinte:

Placa Mãe: ASUS A8V-VM (com vídeo integrado)
Processador: Semprom 3200+
Memória: 1 pente de 1GB (DDR400)
HD: Samsung de 200GB, não sei o modelo
Combo de DVD
Gabinete: da marca Clone (ver postagem anterior)

A intensão era posteriormente poder incluir uma placa de vídeo e um pente de 1GB pra trabalhar em dual channel (com 2 pentes iguais o acesso fica mais rápido, veja o artigo no Clube do Hardware). Também poderia se trocar o processador por um Athlon, mais fortinho. Pra possibilitar as expansões, optamos por uma configuração mais enxuta, mas numa placa mãe para processadores de 939 pinos (os mais modernos na época) e com um slot pra placas de vídeo PCI-Express, que também era um "lançamento".

Essa pinagem (939) já saiu de linha há uma data, mas vai possibilitar uma reforçadinha nas bases sem precisar trocar tudo. Olhando uns precinhos de usados no ML e pesquisando um pouco, percebi que o melhor custo-benefício seria instalar uma plaquinha de vídeo. Outro motivo pra escolher o vídeo como primeira troca é o chipset de vídeo que veio integrado à placa mãe. Ele tem muuuiiitos problemas de compatibilidade. O dito cujo é o K8M890 (o nome do chip que vem na placa) e não é tem driver aberto 3D no Linux, tornando qualquer brincadeira com vídeo no pinguim impraticável. Também é incompatível com vários joguinhos. Tive problemas com o Worms Armagedon e o Age of Mythology, nenhum dos dois sendo pesados para o vídeo. Broncas de compatibilidade mesmo.

Pois quando fui a Recife, estava lá essa plaquinha de vídeo dando bobeira. Segundo Romildo, ela deu alguma incompatibilidade com a placa mãe deles e ficou na caixa descansando. Mesmo não a conhecendo, carreguei-a para a capital. Já havia dito na postagem anterior, mas não custa repetir que é uma Radeon X1550 e foi instalada em seu devido lugar. Funcionou filezinho e foi detectada de prima no XP. Também deu o boot no Linux sem reclamações, mesmo sem qualquer alteração na configuração. Não vi se os drivers já estão rodando ok no pinguim nem se a aceleração 3D está funcional. Esses testes ficarão para o futuro.

O teste vogando mesmo foi no Windows. Instalei o 3DMark05, um testador de performance de vídeo especialmente voltado para aceleração 3D. Escolhi a versão 2005 por ser a padrão dos testes nos sítios de jogos e hardware, permitindo mais comparações com os dados disponíveis na rede. O teste é interessate, são rodados trechos de 3 jogos com damandas pesadas ao vídeo. Ao final, o programa dá um valor de pontuação para o desempenho do sistema. Na verdade são dois valores de desempenho, um para o vídeo 3D (3DMark score) e outro pra o processador. Rodei o teste na configuração velha e na nova (sem e com placa 3D). As diferenças são brutais.

Na configuração velha (vídeo integrado) o 3DMark score atingiu o valor de 286. Os trechos de jogos apareceram na tela com atualização aproximada de 1 ou 2 quadros por segundo, quando muito. Obviamente isso é injogável. Na configuração com placa offboard o resultado do 3DMark pulou para 2.XXX e os jogos apareceram na tela com uns 8 ou 10 quadros por segundo, parecendo realmente jogáveis, apesar de algumas vezes lentos. Outra coisa a ser citada é o aumento do desempenho do processador! Não sei se devido à liberação do processador de algumas tarefas de aceleração de vídeo ou mesmo à liberação de 256MB de memória RAM anteriormente "emprestadas" ao vídeo integrado, o fato é que a performance do processador subiu de 28XX para 3XXX.

Tudo junto, estou fortemente inclinado a pensar na atualização de placa de vídeo como a de melhor custo-benefício quando saímos de uma configuração com vídeo integrado à placa-mãe. Quando comprar uma memória e um Atlhon vou fazer umas comparações e postar aqui. Esta é a primeira da série "Upgrade de Pobre" que terá o intuito de testar como atualizar um micro de liso da forma mais econômica possível. Vamos também tentar testar desempenho de suítes de escritório e outras coisas utilizadas por um usuário normal. Aguarde e confira.


Aqui eu usei propositalmente "placa de vídeo integrada" no lugar da manjada "placa de vídeo onboard". Tentei achar um jeito decente pra substituir "offboard"mas sem sucesso em parecer natural. O problema é que esses termos estrangeiros são muito usados no meio de tecnologia e as traduções têm aplicação muito mais geral, fugindo do sentido tecnológico específico. O mesmo para o "upgrade", já de uso comum e saindo do mundo tecnológico para o dia-a-dia.